HISTÓRICO


A ideia da formação do grupo CINEFILÔ surgiu no segundo semestre de 2023. Nesse período iniciou-se uma investigação, no âmbito da produção cinematográfica do século XX, sobre os dispositivos de dominações cruzadas das questões sexuais e raciais. Nos anos 1930, depois nos anos 1940 a 1960, o que atraía multidões ao cinema e dava lucro aos estúdios era a representação do exotismo e do erotismo das colônias. Construído pelos e para os colonizadores, o erotismo colonial, pelo seu caráter fortemente hegemônico, pode ser visto em espaços tão diversos quanto as exposições etnográficas, os teatros, os cabarés ou ainda na indústria cinematográfica. Constituindo-se como o grande mass media do período entreguerras, tanto na Europa como nos Estados Unidos, o cinema iria, de fato, fazer pleno uso do potencial erótico das colônias, retratando recorrentemente os homens brancos como senhores indiscutíveis dos espaços colonizados. Estes são apresentados, por um lado, como "protetores" das mulheres ocidentais (sistematicamente capturadas por "tribos africanas selvagens", "asiáticos perversos" e "árabes libidinosos", todos ávidos por "mulheres brancas") e, por outro, como heróis sedutores que são ao mesmo tempo "libertadores" de mulheres "nativas" e tragicamente enfeitiçados por míticas "mulheres fatais" orientais ou asiáticas. Numa análise crítica a essa filmografia, investigaram-se os amplos movimentos de reapropriação e recomposição das imagens do “outro”, numa nova configuração sócio-política que emerge nesse início de século XXI. Essa investigação teve como base o texto Sexualités, identités et corps colonisés (com tradução), organizado por Gilles Boetsch, que representa o maior estudo feito até o presente sobre as questões de sexualidade e apropriação dos corpos no período colonial (séc. XV ao XXI).