CINEFILÔ
Grupo de Pesquisa em Comunicação, Filosofia e Política no
Cinema do Sul Global
Foto: Lucas Rubini
Grupo de Pesquisa em Comunicação, Filosofia e Política no
Cinema do Sul Global
Foto: Lucas Rubini
CINEFILÔ é um grupo de pesquisa sobre comunicação, filosofia e política no Cinema do Sul Global (América Latina e Caribe, África e Oriente Médio) que reúne os Programas de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica e de Pós-Graduação em Filosofia da PUC-SP.
Coordenação: Rogério da Costa
O grupo é composto por pesquisadores e profissionais do meio cinematográfico. CINEFILÔ pesquisa e analisa estruturas e narrativas fílmicas num recorte de obras produzidas a partir de uma visão geopolítica do chamado Sul Global, que incorpora produções como o cinema pós-colonial, decolonial, cinema negro, cinema mulher, cinema LGBTQIA+. O objetivo é investigar a cinematografia que traduz, dentro de uma dimensão crítica e sócio-política, a legítima expressão de culturas e povos que sempre ocuparam um lugar subalterno na grande indústria cinematográfica. Com isso, pretende-se desconstruir, igualmente, as apropriações cinematográficas de que foram objeto as culturas latino-americanas, africanas e orientais através de clichês e estereótipos propagados pela indústria cinematográfica de Hollywood e da Europa.
Contexto
CINEFILÔ se dedica à investigação da produção audiovisual de países que foram colonizados, lutaram por sua independência, sofreram com a escravidão e suas sequelas, ditaduras, ainda enfrentam enormes dificuldades econômicas, lutam contra o abismo das desigualdades sociais, das instabilidades políticas e precisam lidar com diásporas e questões migratórias complexas. Nesse cenário, as produções cinematográficas das regiões envolvidas não deixam de buscar uma tradução própria ao que entendem ser as novas lutas do papel da mulher na sociedade contemporânea, da inclusão de comunidades LGBTQIA+, da luta contra o racismo sofrido até hoje por negros e pelas comunidades originárias. É em torno dessas narrativas que CINEFILÔ se organiza.
No seu aspecto conceitual, CINEFILÔ têm como objetivo analisar a cinematografia contemporânea do Sul Global sob o ponto de vista da filosofia do cinema, seguindo algumas indicações dos trabalhos de Gilles Deleuze, Imagem-Movimento e Imagem-Tempo, onde encontram-se reflexões inovadoras sobre o cinema latino-americano, africano e do Oriente Médio. Deleuze discute, por exemplo, no cinema que ele nomeia à época "do Terceiro Mundo", o poder de fabulação de suas personagens, as múltiplas relações com a memória e o tempo presente, a crise do modelo da verdade e a força do afeto e de suas implicações sociopolíticas. Entre as teorizações que complementam esta proposta, e que se debruçam diretamente sobre o cinema, destacam-se aquelas de Thomas Elsaesser, Félix Guattari, Ollivier Pourriol, Laura Podalsky, Stanley Cavell, Esiaba Irobi, Paulin Vieyra, Tavia Nyongâo, Prem Chowdhry, Lucia Nagib, Ismail Xavier, Jesús Martin-Barbero, Tomás Gutiérrez Alea, Deborah Shaw, Maria Guadalupe Arenillas, Hamid Naficy, Viola Shafik e Gigi Adair. Os clássicos da filosofia, que colaboram em discussões sobre desejo, afeto e vontade são Espinosa, Kant, Hegel, Sartre, Freud, Nietzsche e Bergson. Teorias mais recentes incluem Agnes Heller, Marguerite Duras, Judith Butler, David Martin-Jones, Allan James Thomas, Jacques Rancière, Jean-Luc Nancy e Alain Badiou entre outros. Sob o olhar da sociologia, política, antropologia, etnografia e história estão presentes Andrew Long, Mariane Venchi, Tunico Amâncio, Eric Savarese, Morgan Corriou, Aimé Césaire, Ann Laura Stoler, Sara Melzer, Peter Fry, Ana Laura Horbach, Eric Williams, Lélia Gonzales, Paul Gilroy, Sonia Giacomini, Asad Haider, Tanis Das Gupta, Tukufu Zuberi, Eduardo Bonilla, Leigh Payne, Gilles-Boetsch, Pascal Blanchard, Catherine Servan-Schreiber, Jessé Souza, Claire Dutriaux, Silvia Federici, Ida Danewid, Vladimir Safatle, Victoria Haskins e Claire Lowrie, que discutem alteridade, sexualidade colonial, políticas identitárias, racismo, negritude, colonialismo, exotismo, erotismo, diáspora, subserviência doméstica entre outros temas, todos vinculados à força expressiva de inúmeros filmes contemporâneos do Sul Global.
Centenário de Gilles Deleuze
(1925-2025)
Gilles Deleuze nos deixou reflexões preciosas sobre os cinemas da América Latina, África e Oriente Médio, ao nos falar de um cinema de minorias, um cinema político como arte de invenção de um povo. Ele ressalta a crise dos países da era pós-colonização, onde nações oprimidas, exploradas, permanecem em estado de perpétuas minorias, em crise de identidade coletiva: “Enquanto o colonizador proclamava: ‘nunca houve um povo aqui’, o povo que falta se inventa, nas favelas e nos campos, ou nos guetos, com novas condições de luta, para as quais uma arte necessariamente política tem de contribuir”. Outro aspecto que Deleuze aborda, nessa cinematografia, é a incerteza sobre como agir ou o que fazer diante das profundas mutações políticas e sociais contemporâneas, nas quais as próprias personagens estão envolvidas em meio às mudanças históricas. Personagens que veem algo de intolerável, insuportável, muito poderoso ou muito grande e que está para além de seu poder de agir sobre isso.